Uma economista, um estudante e uma publicitária. O que eles esses brasileiros têm em comum? A pandemia. E o pandemônio: há dois meses eles não saem de casa para nada! Estão realmente em isolamento social. Rita Bataglia, de 50 anos, quase fraquejou na semana passada, mas acabou desistindo de dar uma caminhada. “Coloco a máscara e começo a me sentir sufocada”, desabafou ao PAGE. João Duarte, de 17 anos, está recluso do outro lado do Atlântico. Mais precisamente em Portugal. Ele também esteve a ponto de deixar o confinamento. “Comecei a ficar desesperado e pensei em ir dar uma volta, só olhar umas lojas”, disse. Acabou não indo. Já Verônica Domingues, de 35 anos, quase sucumbiu a um desejo: “Adoro pão. Algumas vezes pensei em ir à padaria. Mas, pensando bem, pão não vale tanto a pena assim”, comentou a paulista.
O PAGE fez as mesmas perguntas para todos os confinados. Abaixo, eles falam sobre os desafios na quarentena, o impacto sobre as suas vidas e os desejos e as expectativas para o fim da pandemia.
Por que você decidiu ficar em casa sem sair para nada?
Rita (economista, 50 anos, moradora de São Paulo, capital): Como o meu marido não pode fazer home office, então decidimos que só ele sairia de casa. Tenho dois filhos e quanto menos pessoas expostas, melhor. Quando você passa muito perto da morte não quer saber de dar mole. Tive uma complicação cirúrgica e passei 24 dias internada com infecção abdominal e perfuração da bexiga. Sofri embolia. Foi complicado.
João (estudante e ator, 17 anos, morador de Montijo, Portugal): Senti que era meu dever não só como cidadão mas como ser humano. Se eu tenho o privilégio de poder ficar em casa, eu tenho que ficar por aqueles que não podem. Se eu posso contribuir para que o vírus não se propague mais facilmente, mesmo se eu só puder evitar que uma pessoa pegue o vírus, eu me sinto na responsabilidade e na obrigação de ficar em casa e não sair por nada.
Verônica (redatora publicitária, 35 anos, moradora de São José do Rio Preto, São Paulo): Sou do grupo de risco, é melhor prevenir. Tenho hepatite autoimune. Uso imunossupressores, o que pode tornar o vírus mais grave para mim.
Tem muito medo de ser infectado(a)?
Rita: Sim, tenho. Tenho pavor. Quando saí pela última vez foi para pegar as apostilas dos meus filhos. A escola fica no fim da rua. Tinha um pai lá que fazia dois dias que tinha tido alta da Covid-19. Voltei em pânico. Nunca mais saí.
João: Tenho mais medo pela minha família. Felizmente não estou no grupo de risco, mas o que me motiva a ficar em casa é a facilidade com que o vírus se propaga.
Verônica: Bastante. A gente sabe da gravidade e confia nos médicos e na OMS quanto às recomendações.
Quem faz as compras de casa?
Rita: Meu marido. Ele vai a supermercado, feira e banco. Tiramos tudo do débito automático. Não sabemos como ficará o salário. O meu marido tem fixo e comissão, então achamos melhor tirar e negociar se for preciso.
João: Minha mãe. Ela sai todo dia para trabalhar, então aproveita que já tem que sair de qualquer jeito e vai ao supermercado quando é preciso.
Verônica: Peço por aplicativo. Meu irmão e um amigo, que moram comigo e que estão praticamente tão quarentenados quanto eu, descem para pegar.
Quanto tempo mais você acha que vai durar a quarentena?
Rita: Creio que até fim de agosto, mas acho que é difícil prever tendo em vista o modo como a coisa toda vem sendo conduzida.
João: Acho que antes de outubro não volta ao normal. A poeira pode baixar. Mas até termos 100% certeza de que o vírus já não é uma ameaça vai demorar um bom tempo.
Verônica: Acho que até agosto ou setembro para quem é de grupo de risco como eu.
Como você costuma passar o seu tempo em casa?
Rita: No momento não estou trabalhando. Eu faço exercícios todo dia pela manhã, ajudo com as lições dos filhos e tento distrair as crianças jogando ou assistindo a filmes com eles.
João: Fico no YouTube, na Netflix e nas redes sociais e faço os trabalhos da escola.
Verônica: Trabalhando mesmo. Fora isso, vendo filmes e séries, lendo e redes sociais. Mas já estou me cansando bastante de tudo isso. Só queria que acabasse logo.
Já esteve a ponto de desistir do confinamento e sair de casa?
Rita: Faz muita falta poder sair caminhando por aí. Um dia desses falei para o meu marido que ainda vou pegar o carro e dar uma volta pelo quarteirão. Mas não fiz. Coloco a máscara e começo a me sentir sufocada. Domingo passado, eu quase sair para dar uma caminhada. Mas o medo de trazer o vírus para casa me deteve.
João: Comecei a ficar desesperado e pensei em ir dar uma volta. Só olhar umas lojas. Pouco tempo depois pensei em pegar o dinheiro que tinha guardado, comprar um pouco de cachaça e tentar esquecer o que tá acontecendo de ruim por umas horas. Mas acabei optando por não sair.
Verônica: Sim. Adoro pão. Algumas vezes pensei em ir à padaria. Mas, pensando bem, pão não vale tanto a pena assim.
Do que sente mais falta do mundo lá fora?
Rita: De pescar. É estranho como dá para sentir falta de coisas que são bem simples como ir à feira, sentar na grama num parque ou na casa da minha tia para tomar café. Essas pequenas “besteiras” que fazem toda a diferença.
João: De cinema e de estar com os meus amigos.
Verônica: Da família e dos amigos. Dia das Mães foi trash. Não nos vemos a não ser pelas chamadas de vídeo. Sinto falta de sair com os amigos, ficar em casa com eles e ir ao cinema.
A quarentena o(a) fez dar mais valor a certas coisas?
Rita: Sim, às pequenas atitudes do dia a dia. Você começa a valorizar uma simples xícara de café com sua família. Ver a atitude das pessoas que negam a situação me fez refletir que talvez certas amizades terão que ser repensadas.
João: Sem dúvida. Antes eu não gostava nada de sair de casa. Provavelmente vou continuar não gostando, porque sou tímido, mas com certeza vou aproveitar o tempo que tiver livre para olhar em volta e apreciar coisas belas que eu nunca sequer reparei antes. Também comecei a entender as frustrações dos médicos e vou tentar ser mais paciente com eles.
Verônica: Com certeza. Mesmo ir até o trabalho faz falta. Eu sempre dei bastante valor à liberdade, e acho que agora, mais ainda.
Qual será a primeira coisa que vai fazer quando tiver luz verde para sair de casa?
Rita: Caminhar no gramado da avenida perto de casa. Se puder, vou ver o mar.
João: Ainda não pensei nisso direito. Mas acho que vou só passear. Provavelmente os meus amigos vão planejar uma grande festa e eu, que normalmente não iria, vou aceitar. E se eles não fizerem, faço eu.
Verônica: Ir à cidade da minha mãe, Barretos (SP). Só para matar a saudade mesmo, não tem nada de bom lá além da minha família.
Com uma palavra, pode definir a situação que você está vivendo?
Rita: Desalento.
João: Tédio.
Verônica: Prisão.
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